O câncer de pâncreas é um dos tipos de câncer mais desafiadores da medicina moderna. Embora não esteja entre os mais frequentes, é conhecido pela alta letalidade e pelo diagnóstico tardio, o que dificulta o tratamento eficaz e compromete o prognóstico.
Mas por que isso acontece? Por que o tumor no pâncreas costuma ser descoberto já em fases avançadas? Neste artigo, vamos abordar as principais razões que explicam essa realidade e quais são os sinais de alerta para buscar ajuda médica o quanto antes.
O que é o câncer de pâncreas?
O pâncreas é um órgão localizado no abdômen, atrás do estômago, responsável pela produção de enzimas digestivas e hormônios, como a insulina. Quando células pancreáticas começam a se multiplicar de forma descontrolada, forma-se um tumor maligno, que pode invadir estruturas vizinhas e se espalhar para outras partes do corpo.
O tipo mais comum é o adenocarcinoma ductal pancreático, que se origina nos ductos que transportam as enzimas digestivas. Esse tipo de câncer corresponde a cerca de 90% dos casos.
Por que o diagnóstico é feito tardiamente?
O diagnóstico tardio do câncer de pâncreas se deve a uma combinação de fatores:
1. Localização profunda e silenciosa
O pâncreas está localizado na parte posterior do abdômen, o que dificulta a identificação de alterações por exame físico ou ultrassonografias simples.
2. Sintomas inespecíficos
Nos estágios iniciais, o câncer pancreático não costuma apresentar sintomas específicos. Quando aparecem, podem ser confundidos com problemas comuns, como gastrite ou má digestão.
Entre os sintomas iniciais estão:
- Dor abdominal ou nas costas
- Perda de apetite
- Emagrecimento involuntário
- Náuseas
- Fadiga
Muitas vezes, esses sinais são negligenciados ou tratados de forma sintomática, sem investigação aprofundada.
3. Icterícia como primeiro sinal visível (em alguns casos)
Em tumores localizados na cabeça do pâncreas, a icterícia (pele e olhos amarelados) pode ser o primeiro sintoma visível — e já indica um estágio mais avançado da doença, com obstrução da via biliar.
4. Ausência de exames de rastreio
Diferente de outros tipos de câncer, como o de mama ou de cólon, não existem exames de rastreamento populacional para o câncer de pâncreas. Isso significa que, na maioria dos casos, o tumor só é descoberto quando já provocou alterações significativas no organismo.
Fatores de risco para câncer pancreático
Alguns fatores aumentam o risco de desenvolver câncer de pâncreas:
- Idade acima de 60 anos
- Tabagismo
- Histórico familiar de câncer pancreático
- Pancreatite crônica
- Obesidade
- Dietas ricas em gordura e carne processada
Pessoas com histórico familiar ou fatores de risco importantes devem receber acompanhamento com especialista em aparelho digestivo ou oncologia digestiva.
Como é feito o diagnóstico?
Quando há suspeita clínica, o diagnóstico é feito com base em:
- Exames de imagem: Tomografia abdominal, ressonância magnética, colangiopancreatografia por ressonância (CPRM)
- Endoscopia com ultrassom (ecoendoscopia) para avaliar o pâncreas com precisão e realizar biópsia
- Exames laboratoriais, incluindo o marcador tumoral CA 19-9 (embora não específico, pode ajudar)
O diagnóstico precoce aumenta as chances de cirurgia curativa, que é possível apenas em uma porcentagem pequena dos casos.
O papel do cirurgião do aparelho digestivo
O cirurgião hepato-pancreato-biliar (HPB) tem papel essencial no diagnóstico e tratamento cirúrgico do câncer de pâncreas. Quando o tumor é detectado precocemente e está restrito ao órgão, a cirurgia de Whipple (duodenopancreatectomia) pode ser indicada com intenção curativa.
Em casos mais avançados, o tratamento inclui quimioterapia, radioterapia e cuidados paliativos, sempre com abordagem multidisciplinar.
Conclusão
O câncer de pâncreas é uma doença silenciosa e agressiva, cujo diagnóstico costuma ser tardio por causa da localização profunda do órgão, sintomas inespecíficos e falta de exames de rastreio. No entanto, o conhecimento dos fatores de risco e atenção aos sinais de alerta podem favorecer o diagnóstico mais precoce e melhorar as chances de tratamento eficaz.
Se você apresenta sintomas persistentes ou tem histórico familiar da doença, não hesite em procurar um especialista em oncologia digestiva ou cirurgia do aparelho digestivo. O diagnóstico precoce ainda é a melhor arma contra essa doença tão desafiadora.