Um estudo realizado por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo), Fiocruz, Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e Universidade de Santiago do Chile, publicado no American Journal of Preventive Medicine, calculou pela primeira vez a mortalidade prematura (entre 30 e 69 anos de idade) associada ao consumo de alimentos altamente processados no Brasil: são cerca de 57 mil mortes por ano, com base em dados de 2019.
Isso é maior do que o número anual de mortes pelos dois tipos de câncer mais letais no país: câncer de pulmão (28,6 mil) e câncer de mama (18 mil), segundo dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer).
A maioria das mortes atribuíveis ao consumo de alimentos ultraprocessados ocorre em homens (60%). A faixa etária de 50 a 69 anos apresentou a maior mortalidade (68%).
Os ultraprocessados são formulações industriais feitas com partes de alimentos e que muitas vezes contêm aditivos sintéticos, como corantes, conservantes e temperos. Alguns exemplos mais comuns são salgadinhos de pacote, refrigerantes, pizza congelada, salsichas, nuggets etc.
Ainda, um número crescente de estudos rigorosos indica que o consumo regular desses produtos está associado à obesidade e ao aumento do risco de certas doenças não transmissíveis, como diabetes, problemas cardiovasculares e câncer.
Atualmente, há um aumento do consumo de ultraprocessados em vários países. As razões são muitas, mas um fator decisivo certamente é o preço: estudos mostram que os preços dos alimentos altamente processados estão caindo, enquanto os alimentos frescos, orgânicos e mais saudáveis estão subindo. Isso afeta especialmente pessoas vulneráveis e de baixa renda.
Também, estudos já comprovaram que os alimentos ultraprocessados “viciam” o cérebro e o paladar, devido à presença de gorduras saturadas, açúcar e sal, ingredientes que deixam a comida mais palatável.
Segundo a última Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE, referente aos anos de 2017 e 2018, em média, 19,7% das calorias consumidas pelos brasileiros vêm de ultraprocessados. Considerando o consumo de duas mil calorias diárias para uma pessoa, seriam 400 calorias provenientes de alimentos altamente processados.
Também de acordo com os pesquisadores, se atingirmos no Brasil o patamar dos Estados Unidos (onde os produtos altamente processados representam em média 57% das calorias consumidas), a cada ano teremos 194 mil mortes devido ao consumo excessivo desse tipo de alimento.
Desse modo, restringir o consumo de produtos ultraprocessados requer uma variedade de intervenções em saúde pública. O consumo de alimentos saudáveis deve ser incentivado, além de também ser desencorajado o consumo de alimentos altamente processados, mostrando seus riscos para a saúde.
Além disso, estas medidas devem incluir a regulamentação da publicidade e venda de produtos ultraprocessados nas escolas, a tributação destes produtos e a implementação de nova rotulagem específica, alertando para os perigos que estes representam.